Nenhum órgão sabe informar quantas famílias vivem em áreas de risco
Vista aérea do centro de Bom Jardim, na região serrana do Rio, atingido pelas chuvas Foto: Marino Azevedo/EFE |
Fonte: R7.com
O forte temporal que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro completa seis meses nesta segunda-feira (11) e o cenário ainda é desolador nas cidades atingidas. Moradores dos sete municípios afetados convivem até hoje com ruas sujas de lama e escombros. Milhares permanecem fora de suas casas - a região contabiliza 31.399 desabrigados e desalojados, segundo levantamento da Secretaria de Estado e Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros. Dias após a tragédia, esse número chegou a 39 mil.
A reportagem do R7 visitou três das cidades mais afetadas - Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis - e constatou que a reconstrução caminha a passos lentos. E, apesar de a tragédia ter matado 918 pessoas e deixado mais de 600 desaparecidos, há quem ainda permaneça nas áreas de risco. Em Nova Friburgo, onde 428 moradores morreram, ao menos 500 famílias vivem hoje em regiões consideradas de risco. Já os outros seis municípios não sabem informar quantas pessoas ocupam locais vulneráveis a enchentes e deslizamentos.
Relatório da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro aponta que mais de 700 encostas ainda podem desabar em Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Areal, Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto e Sumidouro.
E, apesar de a tragédia ter ocorrido em regiões reconhecidamente de risco - ainda hoje povoadas -, ninguém foi responsabilizado pelo desastre, que entrou na lista da ONU (Organização das Nações Unidas) dos dez maiores do século 21.
O fenômeno climático ocorrido na madrugada do dia 11 de janeiro é extremamente raro, com previsão de outra chuva da mesma intensidade em 350 anos, segundo o Inea (Instituto Estadual do Ambiente). Em algumas horas, choveu o esperado para todo o mês.
Reconstrução lenta
Seis meses após o desastre, pouco foi feito nas cidades visitadas pelo R7. Além das vias que continuam com lama, entulho e escombros, nenhuma nova moradia chegou a ser reerguida, segundo a Secretaria Estadual de Obras. Entretanto, em Teresópolis e em Nova Friburgo, áreas desapropriadas estão em fase de terraplanagem (preparação do terreno) para projetos habitacionais.
O Japão, após o tsunami que arrasou cidades inteiras em março passado, reconstruiu em seis dias a rodovia Grande Kato, em Naka. O mesmo não aconteceu nas estradas da região serrana - ainda são necessárias ações de recuperação de diversos trechos das rodovias RJ-116, RJ-148, RJ-150, RJ-142, RJ-130, RJ-134, que cortam os sete municípios.
O governo federal disponibilizou R$ 100 milhões para o Estado para a reconstrução das áreas atingidas, mas, de acordo com o Ministério da Integração Nacional, somente R$ 30 milhões foram liberados. Os outros R$ 70 milhões aguardam trâmites burocráticos para chegar aos cofres do governo estadual. De acordo com a procuradora-geral de Teresópolis, Ana Cristina da Costa, o governo do Rio será o responsável por gerir as obras de reconstrução.
A tragédia
Nos dias seguintes à tragédia, escolas, ginásios esportivos e igrejas viraram abrigos. Hospitais ficaram cheios de feridos. Uma das consequências da tragédia foi o salto no número de doenças como leptospirose (provocada pelo contato com a urina de rato).
As cidades de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto, Bom Jardim e Areal decretaram estado de calamidade pública. Serviços como água, luz e telefone foram interrompidos, estradas foram interditadas, pontes caíram e bairros ficaram isolados.
A ajuda também veio através de doações. Doadores de diversos Estados e países se comoveram com a tragédia e enviaram dinheiro, roupas, alimentos, remédios, água e colchões. Os animais que perderam seus donos e conseguiram sobreviver não foram esquecidos pela corrente de solidariedade. Entidades de defesa dos animais e pet shops organizaram feira de adoções.
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