Por Luiz Otávio de Andrade - Blog do Instituto Histórico e Geográfico de Bom Jardim.
AS CHUVAS DE JOÃO BEQUE
Filho de escravos, oriundo lá de São Lourenço, veio direto para o Caxangá em São Miguel. E, com ele sua fé e seu canto que traziam chuvas nas épocas das secas. Aquele negro de pés tortos, que mal cabiam calçados, saía com sua irmã Amélia, seu pandeiro e andor. Algumas vezes seguido em pequena procissão, rezando o Pai Nosso sem parar, por todo o município até a chuva cair e molhar as terras e as lavouras.
Registrado por D. Iza Marchetti aos 75 anos (aproximados), recebendo dela o nome de João Batista Corrêa, por gostar das festas de São João. Daí surgir o apelido de João e pelos enormes pés tortos, dos Beque de futebol.
Alegre e festivo adorava carnaval e do Bloco do seu Jacó (Boi bumbá, Mulinha e Índios) que mais tarde virou Miguelão. Ele saía de Baiana, com longas saias brancas e rodadas, maquiagem de urucum e brincos de jiló como adereço.
Sem noção de dinheiro, areava panelas como ninguém, e ficava satisfeito quando alguém lhe pedia para catar lenha. Lá ia João Beque cantando: “Oia cobra fumando, oia a cobra fumando. Oia a cobra fumando”...
Chorei porque fiquei sem meu amor...
O gavião “marvado” bateu asas e foi com ela e me deixou...
E também gostava de se exibir, imitando o som de sanfona com a boca e falando: “Ijá, ijá, ijá” caía no chão, colocava os pés na cabeça e rodava no chão como uma piorra.
Rezador, que curava todos os males, igual um doutor!
E as noites, quando ninava criança com suas canções, as colocando pra dormir.
Depois sentava no terreiro, pitando seu velho cachimbo e cuspindo, a contar suas histórias inventadas onde só havia bondade, amizade e amor. Até que bocejando, falava:
-“Cheu Minino, cheu minino, tô cum xonu vou durmi”.
Essa é a história de JOÃO BEQUE, um homem humilde e sem maldade, capaz de dar a outra face para apanhar da vida.
Dizem, que morreu aos 128 anos, indo morar no céu. E até hoje lá de cima, fica esperando na época da seca, que alguém chame por seu nome para chover.
(Luiz Otávio de Andrade)
Jorge Venicio12 de abril de 2010 10:18
Muito bom lembrar dessa pessoa maravilhosa, que é João Beque, e também sua inseparável irmã, Amélia. Passei horas ouvindo as cantigas e estórias do João. Quantas vezes vi João pilar café, batendo com cadência a "mão-de-pilão". Ainda me é forte a lembrança dakele homen negro, cabelos brancos, pés abertos,sapatos grandes (mtas vezes rasgados na ponta para caberem seus pés), embornal a tira-colo, caminhando pelas ruas... Seu corpo parece bailar... indo para um lado e para outro, qual pêndulo de relógio... De vez enquando alguem brinca com ele para ouvir seu sorriso barulhento e estranho... ele para e ri... mas ao passar em frente as Igrejas para e tira, respeitosamente, o chapéu... procedimento usado ao passar em frente ao cemitério. La vai João Beque...
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